CORRER PARA COMER?

Por Paula Costa Teixeira

Recentemente uma paciente com transtorno alimentar (TA) me perguntou qual era o problema de fazer exercícios para compensar as calorias ingeridas. No caso dela, por já ter um diagnóstico de TA e estar em tratamento, essa motivação para o exercício tem grandes chances de ser um problema, sim.

Pacientes com transtorno alimentar tem uma relação patológica com o exercício físico, ou seja, não usufruem de todos os benefícios de uma prática regular, por isso, não conquistam saúde plena (bem-estar físico, mental, emocional, espiritual e social).

Sim, os benefícios físicos até podem existir, mas se a pessoa tem TA, significa que há uma doença, que a relação com a comida e com o corpo não está boa, logo, o metabolismo não responderá adequadamente. Isso porque a relação entre a energia ingerida na alimentação e o gasto energético nos TA está sempre em desequilíbrio.
Atualmente, a relação patológica tanto com o exercício quanto com a comida acomete muitas pessoas. É comum a primeira motivação para se exercitar passar por um pensamento de obrigação e compensação da ingestão calórica, em outras palavras, “gastar o que eu comi”.

No entanto, se essa relação exercício-comida não for reequilibrada, algum problema a médio-longo prazo surgirá. Não necessariamente um TA (que convenhamos, já seria um baita problema, uma vez que o tratamento é longo, caro e a remissão de todos os sintomas é muito difícil), mas também problemas como comportamentos compulsivos e/ou excessivos que desgastam o corpo, ocasionam lesões, reforça pensamentos de “fazer dieta” e de atingir um peso X, ou seja, prejudica a saúde emocional, mental e social.

E, assim, ao invés de se aproximar de uma saúde plena, você se afasta e somatiza comportamentos transtornados, que até podem ser “aceitos” socialmente por serem muito comuns, mas que não podem ser considerados normais.

Sentir-se bem como você é, estar bem com você mesmo, comer e se exercitar honrando os sinais do corpo, significa estar em conexão com você mesmo!

Portanto, uma prática como a corrida pode ser uma ótima oportunidade para cuidar do seu corpo, se escutar, sentir o seu corpo, observar a sua mente, relaxar e movimentar sua energia, ao invés de reduzi-la a um “passe livre” para comer.

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Paula Costa Teixeira
Educadora Física, Doutora em Neurociências e Comportamento pela USP, Especialista pela UNIFESP, Colaboradora do AMBULIM e Membro do GENTA.