Eu gostaria que…

Por Fernanda Timerman

“Eu gostaria que meninas pequenas estivessem crescendo sabendo que elas não precisam se preocupar tanto com seu apetite, que elas fossem valorizadas e se sentissem valorizadas por toda a beleza que elas possuem na variedade de suas mentes e na variedade de seus corpos.

Eu gostaria que meninas pequenas e mulheres crescidas pudessem confiar em sua fome e alimentar essa fome, seguras em saber que está tudo bem em querer e obter o que se quer ter.

Eu gostaria que por um momento mágico, depois por um dia, uma semana, um ano e uma década, todas as mulheres pudessem relaxar frente à comida e relaxar com seus corpos, alimentando-os como eles deveriam ser alimentados, respeitando-os e os curtindo.

Eu gostaria que cada mordida de comida fosse uma mordida desejada, não engolida para preencher anseios emocionais que não se sabe nomear ou para preencher sentimentos muito difíceis de sentir.

Eu gostaria que tamanho não importasse, que ser grande ou ser pequena fosse igualmente apreciado. Eu gostaria que o comer compulsivo, dietas, vômitos e jejuns fossem esquisitices ao invés de ser experiências rotineiras de tantos anos e mulheres de hoje.

Eu gostaria que as mulheres pudessem malhar na academia porque elas gostam, sem ter que calcular qual comida elas estão tentando se livrar. Eu gostaria que as mulheres fossem para cama sem se amaldiçoarem pelo que comeram aquele dia, nem prometendo para si mesmas que vão se privar amanhã.

Eu gostaria que quando as mulheres se olhassem, elas vissem uma imagem que pudessem reconhecer, que elas vissem a beleza feminina representada em todos os tamanhos, idades e cores tão diferente quanto nós somos. Eu gostaria que os pais se sentissem tão relaxados em relação ao apetite de suas filhas quanto se sentem satisfeitos pelo apetite dos filhos….”

Esta é a introdução do livro “Fat Is A Feminist Issue que significa “Gordura é uma questão feminista”. O livro está disponível online na versão em Português, porém em uma das últimas edições em inglês (já está na 50a edição), Susie incluiu essa introdução que é praticamente um manifesto. Este trecho foi livremente traduzido pela nutri Fernanda Timerman.

O livro foi lançado na década de 70 pela psicanalista Susie Orback. Foi um grande sucesso internacional, mas não muito divulgado aqui no Brasil. É um dos primeiros livros antidieta e funciona como manual prático de auxilio para quem tem compulsão e oscilação de peso.

Susie Orback fundou um grupo internacional chamado Endangered Bodies que, no Brasil, tem um núcleo chamado grupo Corpo e Cultura, do qual 2 colunistas do site (Fernanda Timerman – nutricionista e Luciana Saddi – psicanalista) fazem parte.

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Fernanda Timerman
Nutricionista, Mestre em saúde pública. Faz parte da coordenação do GENTA, Grupo Esp. em Nutrição e Transtornos alimentares e da Nutrição Comportamental.