AFINAL, O QUE SÃO OS TRANSTORNOS ALIMENTARES?
São distúrbios do comportamento alimentar, classificados, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), na Classificação Internacional de Doenças, no capítulo de Transtornos mentais e comportamentais, especificamente como síndromes comportamentais associadas a disfunções fisiológicas e a fatores físicos.
Todo transtorno alimentar (TA) é reflexo da relação conturbada com o alimento, com o ato de comer e/ou com o corpo.
Atualmente, definido pelas OMS e Associação Americana de Psiquiatria (AAP), são classificados como transtorno alimentar seis categorias diagnósticas principais:
- anorexia nervosa,
- bulimia nervosa,
- transtorno da compulsão alimentar,
- pica,
- transtorno de ruminação,
- e transtorno alimentar restritivo/evitativo.
Outros dois novos transtornos alimentares especificados foram também incluídos na última revisão da classificação em 2013: a síndrome do comer noturno e o transtorno purgativo.
Ao contrário do que usualmente se acredita, apenas três dos transtornos alimentares estão associados à distorção da imagem corporal: anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno purgativo. Os outros transtornos alimentares reconhecidos não apresentam como sintoma o transtorno da imagem corporal, permanecendo nestes características próprias de relação conflituosa com a alimentação.
Foi nos anos de 1980 que a AAP reconheceu a categoria diagnóstica de TA, incluindo aqui a anorexia nervosa e bulimia nervosa. Até 1994, permaneceram apenas estas duas entidades diagnósticas reconhecidas, sendo incluído um possível novo transtorno alimentar, o então chamado transtorno da compulsão alimentar periódica, atualmente renomeado de transtorno de compulsão alimentar. Em 2013, todos os outros transtornos alimentares acima citados foram então incluídos.
A maneira como a percepção corporal influencia a construção da autoestima pode ser devastador em portadores de anorexia nervosa e bulimia. O pavor em engordar e a preocupação patológica com o peso e forma corporal são determinantes do comportamento alimentar transtornado.
A auto-avaliação é predominantemente baseada na percepção distorcida do próprio corpo e a vida cotidiana é indevidamente determinada por práticas inapropriadas de controle de peso. Embora não haja evidência de transtorno de imagem corporal na compulsão alimentar, sentimentos negativos relacionados a um possível sobrepeso também são frequentemente encontrados levando a um ciclo recorrente de restrição-compulsão.
A prevalência de transtornos alimentares na população adulta geral está em torno de 3%, sendo o transtorno da compulsão alimentar, síndrome do comer noturno, bulimia nervosa e anorexia nervosa, os mais prevalentes em ordem decrescente.
Por décadas os transtornos alimentares permanceram associados ao conceito de doença exclusivamente feminina, em parte reforçado pelos primeiros critérios diagnósticos estabelecidos, revistos apenas em 2013 e promovendo a desestigmatização deste conceito. Embora sejam de fato mais prevalentes entre mulheres, atualmente torna-se mais evidente a identificação de anorexia e bulimia entre homens em prevalências bem maiores do antes de imaginava. Hoje estima-se de até 40% dos portadores destes TAs são homens.
Por ser um grupo de doenças que envolvem emoções e sentimentos negativos na relação com a comida (medo, culpa, arrependimento, fracasso, impotência), percepção corporal inapropriada (depreciação ou distorção da imagem corporal), crenças nutricionais distorcidas (sobre calorias e alimentos classificados como proibidos) e sintomas afetivos e ansiosos associados, após seu diagnóstico realizado por um médico psiquiatra, o tratamento envolve equipe multiprofissional, como nutricionistas, psicólogos, profissionais de educação física, fisioterapeutas entre outros.
A psicoterapia e as técnicas de nutrição comportamental são os tratamentos de escolha, mas o uso de medicamentos eventualmente serão necessários durante o tratamento.
É preciso entender que os transtornos alimentares determinam sofrimento importante para seu portador e que suas dificuldades alimentares devem ser compreendidas como um sintoma de um adoecimento emocional que deverá ser adequadamente cuidado. Neste momento a empatia por alguém portador de TA e de transtorno de imagem corporal deve definitivamente substituir o julgamento tão indevidamente encontrado.
É muito importante lembrar sempre que com um adequado tratamento é possível chegar-se à cura.
Algumas dicas podem nortear o conhecimento sobre os TAs (segundo a Academy of Eating Disorders):
- Muitas pessoas com TA parecem saudáveis, ainda que estejam extremamente doentes;
- Famílias não são as culpadas, e podem ser as melhores aliadas no tratamento;
- TAs causam perturbações nas relações pessoais e familiares;
- Ter um TA não é uma escolha, é uma grave doença mental, com influência biológica;
- TAs afetam pessoas independentemente de idade, gênero, etnia, peso corporal, orientação sexual ou nível socioeconômico;
- Ter um TA aumenta as chances de suicídio e complicações médicas;
- Genes e ambiente influenciam o desenvolvimento dos Tas;
- A genética por si só, não determina quem vai desenvolver o transtorno;
- A recuperação total é possível. O tratamento precoce e a prevenção são muito importantes.
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