A grande dificuldade dos nossos tempos é conseguir decidir o que comer. A imensa variedade de informações nos deixa confusos em relação a melhor escolha. Muitos alimentos são tidos como milagrosos, outros são os vilões de qualquer prato.
A dicotomia e rigidez na classificação das comidas deixa evidente o sentimento de culpa de quem come algo além do “permitido”.
Essa busca por comer de maneira saudável quando obsessiva tem nome: Ortorexia Nervosa. A doença não é classificada nos manuais diagnósticos como um transtorno alimentar embora ocorra uma evidente mudança no comportamento alimentar.
Alguns cientistas acreditam haver uma íntima relação entre a ortorexia nervosa e a anorexia nervosa. Outros entendem o transtorno como algo do espectro dos transtornos ansiosos. A falta do diagnóstico preciso aflige nutricionistas e médicos pelo risco de pessoas doentes não terem no seu comportamento algo caracterizado formalmente como problema que precisa ser tratado. A justificativa para a ortorexia nervosa estar de fora do hall dos transtornos alimentares conhecidos é o pouco tempo de pesquisa e achados científicos.
Sabe-se porém que o uso das redes sociais aumenta o risco de desenvolvimento dessa busca desenfreada por “comer bem”. Quanto mais os usuários sem interessam por buscar fotos e informações de alimentação saudável e dicas, maior o risco para desenvolver ortorexia nervosa.
Para aumentar o risco e gravidade, infelizmente é comum comportamento semelhante em profissionais da saúde cuja abordagem engloba peso corporal e alimentação, como nutricionistas, endocrinologistas e nutrólogos, por exemplo. Com a maior valorização do comer de maneira “limpa” e saudável, aumenta também a propagação da falsa sensação de que uma doença é estilo de vida.
Controlar rigidamente o que se come acompanhando obsessivamente a preparação e origem dos alimentos, listar os alimentos permitidos para consumo e isolamento social por causa da seleção alimentar são algumas das características de quem sofre com a doença.
É sabido que dietas de restrição aumentam o risco de desenvolvimento de anorexia nervosa e bulimia nervosa em até 18 vezes, o que reforça a gravidade de se fazer dietas sem orientação adequada. A frequente divulgação de dietas da moda e valorização da magreza afeta diretamente pessoas insatisfeitas com seus corpos, grupo vulnerável ao desenvolvimento de transtornos da alimentação.
É importante que profissionais da saúde se responsabilizem pelas informações sobre alimentação e nutrição e que as façam de maneira adequada e consciente, propagando a pluralidade de formas e maneiras de se alimentar.
Não existe uma fórmula mágica para se comer com saúde, é preciso transformar a relação das pessoas com a comida para melhor, facilitando o reconhecimento dos sinais internos de fome e saciedade e não com a perpetuação de jejuns, proibição de grupos alimentares e exercícios físicos compensatórios.
Comer de maneira mais saudável é diferente de comer única e exclusivamente alimentos saudáveis.
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