Apesar das primeiras descrições médicas nos anos 1600 sobre os transtornos alimentares incluírem o relato de meninos com sintomas clássicos de Anorexia nervosa, a atenção sobre a população masculina portadora de distúrbios do comportamento alimentar permaneceu marginalizada na medicina.
Por todos esses anos, estas doenças permaneceram ligadas ao gênero feminino e essencialmente estigmatizadas às mulheres.
Assim, que rapaz teria, então, o direito de pensar que seria portador de um transtorno alimentar (TA)? Contudo, especialmente na última década, o interesse na compreensão sobre o comportamento alimentar em homens cresceu e se tornou possível entender que a alimentação transtornada não era apenas exclusiva das mulheres nem, tão pouco, as percepções distorcidas sobre a imagem corporal e suas consequências.
Ainda causa surpresa na maioria das pessoas saber que quadros de Anorexia nervosa e Bulimia nervosa também ocorrem em meninos. Quando se fala em Transtorno da compulsão alimentar talvez seja mais fácil compreender e identificar a ocorrência também frequente nos homens, quase que igualmente entre as mulheres, e mais fácil, portanto, aceitar este específico transtorno alimentar entre homens.
Tanto a Anorexia nervosa quanto a Bulimia nervosa, segundo estudos populacionais mais recentes, são claramente mais prevalentes do que se imaginava. A relação clássica de prevalência baseada em evidência de estudos científicos era da proporção de 1 homem para cada 9 mulheres portadores de transtorno alimentar.
Nos últimos cinco anos, as pesquisas têm demonstrado uma mudança neste padrão revelando uma proporção de até 4 homens para 6 mulheres portadores de TA. Questiona-se se este fenômeno diz respeito a aumento real de novos casos no sexo masculino ou se aumentou a oportunidade diagnóstica e a confiança de seus portadores em se revelarem com os comportamentos alimentares TA.
Sabidamente homens com passado na infância e adolescência de obesidade apresentam maior risco de desenvolverem transtornos alimentares, assim como os atletas que são exigidos a manter um baixo peso para garantir sua desempenho esportivo.
Ao contrário do que também se imagina, os sintomas vivenciados de Anorexia nervosa e Bulimia nervosa em homens é exatamente a mesma dos encontrados em mulheres.
Ou seja, o sofrimento provocado pela distorção de imagem corporal, o pavor em ganhar peso e a necessidade urgente em emagrecer e toda a alimentação transtornada associada estão igualmente presentes independente do gênero.
Não é uma verdade que o transtorno alimentar nos homens aparece como um desejo de se tornar forte e musculoso; esta é a Dismorfia muscular, um Transtorno dismórfico corporal e não um TA.
Homens com Anorexia nervosa e Bulimia nervosa também percebem seu corpo indevidamente maior do que de fato é e mantém também uma desorganização alimentar que passeia entre os momentos de restrição e os momentos de compulsão, apresentando também comportamentos absolutamente inadequados para tentar garantir a perda de peso.
É sempre necessário reforçar o conceito de que comportamentos alimentares transtornados são sintomas de uma doença classificada como Transtorno alimentar. E que independente do gênero ou orientação sexual, seus portadores deverão ter seu sofrimento igualmente respeitado e terem igual acesso e oportunidade ao tratamento médico psiquiátrico, nutricional e psicológico.
Assista aqui a entrevista com a Dr. Alexandre Pinto de Azevedo.
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