Todos os dias eu recebo por e-mail depoimentos de pessoas que estão em guerra com a comida e com o corpo. Descobri que não estamos sozinhas. Este é o desabafo que uma mulher de 36 anos.
“Eu me odeio. É assim que posso começar. Descrevendo tudo que já senti durante anos. Porque não é fácil viver em um corpo que você simplesmente não aceita e condena. Foi essa sensação que tive durante grande parte da minha vida, desprezar aquilo que vejo quando estou diante do espelho.
Mas antes não era assim, não. Na verdade, eu antes de tudo, gostava do que via. Me olhava e gostava como as roupas me serviam, como meu cabelo era cortado e era feliz. Mas com o passar dos anos, eu fui crescendo e vendo que as pessoas não me viam assim. Muito pelo contrário.
Eu era a amiga gorda das meninas e “apenas amiga” dos meninos. Eu fui percebendo que eu nunca chegaria aos pés daquelas meninas magras, cabelos grandes e que, aos olhos da sociedade, eram consideradas a “perfeição”. Então comecei a olhar no espelho e odiar o que via.
Adotei novos estilos de roupa e mesmo que fizesse 40° graus lá fora eu vestia casacos ou blusas de mangas longas que me cobrissem, de preferência folgadas. E calças, nunca shorts ou saias. E isso não era o bastante para eu me sentir melhor, porque as pessoas ainda me olhavam como a “gorda”. Então tudo que eu comia eu colocava para fora. Mas eu nunca conseguia resultado e isso me frustrava.
As pessoas não têm noção de como é ruim ser a última a ser escolhida, ser sempre vista como amiga, a ver suas amigas namorando, contando histórias de paqueras e você não ter nada.
Mas a pior parte são os comentários, já cheguei a ouvir na balada quando fui defender uma amiga de um cara inconveniente por ela ter namorado, que mulheres “gordas” não têm direito de ser chatas. A ouvir que é nojento ficar com mulheres acima do peso porque elas têm cheiro de fritura e estão sempre suadas e cansadas.
Mas isso mudou. Comecei a mudar meu estilo de vida e entrei na academia, decidi que eu não aguentava mais os comentários, as rejeições, me sentir excluída e me odiar. E em 3 meses, consegui emagrecer 20kg. E posso dizer com absoluta convicção que quando você emagrece e entra no peso que a sociedade considera “magro”, meu Deus como elas mudam com você.
Eu uso ainda as mesmas roupas (claro que agora elas são menores) mas agora elas me elogiam e dizem que me visto bem. E que tenho que manter meu novo peso, porque senão nunca vou casar, porque os homens não gostam de mulheres gordinhas. E eu não posso negar isso, porque hoje eles me tratam diferente, me olham diferente. Agora tenho convites para sair, sou paquerada, e percebida.
Gostaria de poder dizer que as pessoas não gostam de você pelo tanto que você pesa, mas elas gostam.
Você não tem ideia do quanto é bom ser reconhecida, elogiada? Ainda tenho muitas limitações, minha autoestima não acompanhou a minha redução de peso, porque ainda quando entro nas lojas procuro pelas roupas GG e me assusto quando elas nem encostam no meu corpo de tão grandes. E, muitas vezes, ainda me vejo no espelho e só consigo ver as gorduras, as estrias, o que tem de errado.
Ainda me olho e não gosto de nada. E isso é tão ruim. Como somos tão vulneráveis. É como se, apesar de todos os elogios, nenhum apagasse aquela única palavra de desprezo. E se eu pudesse dar um conselho, seria: cuidado, não deixe que as pessoas te destruam, te digam que você não está bonita o suficiente.
Melhore o que VOCÊ acha que não te agrada. Porque se você for sempre mudar pelo que os outros vêem, nunca ficará satisfeita. Porque para eles você nunca estará bonita o suficiente.
Esse e-mail foi um desabafo. Foi só para reafirmar que o mundo ainda não está preparado para ter pessoas gordas e felizes. Para o mundo sinônimo de felicidade é a magreza.
É comer salada e suco verde… ir para a academia todo dia e tirar foto com a barriga negativa. Pode ser que isso mude, mas até lá, o máximo que podemos fazer é parar de nos sentirmos inferiores.
Quando vamos olhar no espelho e pensar que cada um tem a sua beleza?”
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