Perdi o chão. Tenho 20 anos com compulsão e transtornos alimentares.

Todos os dias eu recebo por e-mail depoimentos de pessoas que estão ou estiveram em guerra com a comida e com o corpo. Descobri que não estamos sozinhos.

Meu nome é Vic, tenho 20 anos e sofro desde cedo por não me sentir dentro dos padrões.

Lembro de quando eu era bem novinha e fazia ballet, eu olhava para as meninas bem magras e as professoras elogiando e sentia que nunca seria boa o bastante. Um dia uma professora chegou a me dizer “você não é gorda, mas também não tá magra. Tem que emagrecer.”  E ali começou. Eu ficava sempre comparando minha largura, meu tamanho… Eu tinha vergonha de algumas apresentações. E o mais triste é que isso nunca melhorou com o tempo.

Depois de 5 anos eu larguei o ballet mas a neura nunca passou. Comecei a fazer dietas e aos 16 perdi 15 kg.

Vivia de marmitas. Perdi todas as confraternizações possiveis. Não almocei com minha mãe no dia dela. Não comi o primeiro pedaço de bolo que minha amiga me dedicou na festa. Não comi nada da ceia de natal. As pessoas me achavam a adolescente mais fantástica e focada do mundo. E eu, me achava a mais distante. Eles diziam “nossa, queria ter o foco que você tem” e mentalmente eu só conseguia dizer “por favor, não queira”…

Eu sempre mantive a dieta. Cheguei a ficar 1 ano sem furar. Perdi tudo que se pode perder dentro de 1 ano. Não me sentia triste, porque achava que era preciso. Mas me sentia distante. E era… Aos 18 voltei a incluir alimentos na minha alimentação. Voltei a encaixar “dia do lixo”, comer o que eu gostava de vez em quando… E foi um desastre. Me tornei compulsiva.

Perdi o chão. Porque agora, tenho 20 anos com compulsão e transtornos alimentares. Na batalha para me encaixar num padrão INEXISTENTE de beleza, ao invés de armas, ganhei armadilhas. Tem dias que não consigo ir a faculdade, porque acho que todos estão me olhando e pensando no quanto sou feia e gorda.

Quando comento com meus amigos, muitos acham que é besteira da minha cabeça. Eles dizem “você é linda, para de graça”. E eu sofro. Deixo de sair e de encontrá-los. No fds quando mais ataca a compulsão, eu choro todas as noites. É horrível. Dói tanto na alma que sinto em cada parte do meu corpo. Não sei como sair dessa mas queria que ninguém passasse por nada parecido.

Lutei tanto contra o meu corpo que não consegui ouvi-lo a tempo de arrumar forças para defendê-lo agora. Perdemos o controle um do outro e parece que não somos a mesma pessoa. De tanto lutar as batalhas erradas, não estamos conseguindo vencer a certa.

Bom, de coração eu queria poder dizer pra qualquer pessoa que venha a ler isso que: absolutamente NADA do que você faz te sustenta se você maltrata a sua morada.

Seu corpo é sua casa.

Ler estas histórias me fez entender como precisamos conversar sobre isso e mudar a nossa mentalidade de dieta e de rejeição ao nosso corpo. Vou compartilhar aqui as mensagem que vocês mandam. Jamais vou revelar o nome verdadeiro de ninguém para não expor. E lembre: Não estamos aqui para julgar. Estamos aqui para aprender a respeitar o nosso corpo. TODOS JUNTOS.

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