De uns tempos para cá, muito se fala sobre a necessidade e a importância de que mudanças sejam feitas, e aqui destaco a tão falada mudança no estilo de vida. Ao mesmo tempo em que isso ocorre, a oferta (de tudo!) está cada vez mais exagerada.
O mundo pede que você mude, seja comedido, equilibrado, fitness, zen, magro e sarado, tendo como referências padrões praticamente irreais de revistas ou blogs.
Entretanto, pouco se fala sobre as ferramentas subjetivas para se alcançar esse tão desejado estado de equilíbrio… Digo ferramentas “subjetivas”, porque as práticas são bem disseminadas nas manchetes e reportagens por aí: “Como secar 5kg em 1 semana”, “Veja como ficar com o corpo de ‘X’”, “Aprenda a deixar o cabelo como o de ‘Y’”, são alguns exemplos.
Então, a minha proposta é pensar um pouco sobre a palavra “processo”, que é muito conhecida e dita, mas pouco usada enquanto objeto de reflexão. Curiosamente, resgatei o último dicionário (um sobrevivente!) Aurélio (1988) que tenho em casa, para ler a definição de “processo”. Como é um pouco longa, selecionei as partes que achei mais interessantes; segue:
“1. Ato de proceder, de ir por diante; seguimento, curso, marcha. 2. sucessão de estados ou de mudanças. (…) 4. sequência de estados de um sistema que se transforma; evolução. (…)”
A questão é que, quando falamos em mudanças de hábito ou de estilo de vida, de imediato se pensa sobre o quão prático isso pode ser (por exemplo, apenas alguns ajustes: menos comida, mais atividade física – está perfeito!), mas excluímos dessa “receita” as mudanças psíquicas que estão implicadas, e que muitas das vezes é o ingrediente faltante que não permite que o seu processo de mudança tenha seguimento.
É preciso considerar que as mudanças internas, mudanças no nosso modo de pensar e de sentir são muito menos práticas e rápidas do que a sensação delícia e imediata de comer brigadeiro, ou aquele seu prato predileto.
Um exemplo típico é lidar com a fome, que, para saciá-la, basta fazer uma refeição balanceada, e está resolvido. Bom, a verdade é que em muitos casos isso ocorre em partes, sobretudo quando você come, e, por mais que coma, a impressão de estar com fome permanece… É nesse contexto que pode estar em ação a danada da “FOME EMOCIONAL”. Sim, pode ser que ela te acompanhe e você nem saiba que ela existe!
A fome emocional é insaciável e cíclica! Em geral, isso acontece num passo a passo mais ou menos assim:
1º) Alguma situação me gera uma emoção, um sentimento. Vou usar como exemplo a ansiedade, mas poderia ser tristeza, alegria, angústia, medo, etc.
2º) Penso que preciso/mereço comer porque estou ansiosa.
3º) Como automaticamente, sem me dar conta do sabor, da sensação que aquele alimento provoca, da saciedade e da quantidade ingerida.
4º) A ansiedade inicial cresce porque comi quando não deveria, e, aliado à isso, aparecem a culpa e a sensação de fracasso por não ter resistido “à tentação”, por ter “quebrado” a dieta e por engordar, mesmo que isso seja imaginário.
5º) Resultado: volto a comer para me esquecer das etapas anteriores. Ou seja, o ciclo recomeça, com tantas outras emoções podendo servir de “gatilho”.
Em síntese, se seu desejo é “matar a fome” (fisiológica), mas ela não “morre” nunca, você precisa começar a considerar a possibilidade de sentir fome emocional, e dedicar mais atenção e cuidado a esse aspecto.
Pois bem, assim como ocorre com a fome emocional, sugiro também que você não subestime a sua “porção” subjetiva, interna, psíquica, ou como queira chamar, pois quem sabe apenas quando você conseguir tratá-la com a devida importância, seja possível ter espaço para que as mudanças que você propõe fazer e o seu processo mantenham um curso, uma marcha, fluam e evoluam em mais e mais etapas…
“Mudar” pode ter um significado muito mais amplo e profundo do que se imagina e os empecilhos às vezes podem estar dentro de você, quietinhos, sem que você consiga visualizá-los “a olho nu”. Buscar informações e/ou auxílio profissional podem ser ferramentas que tornem o seu processo mais viável e contínuo.
Quer saber mais sobre fome emocional? Veja a entrevista com a psicóloga Amanda Menezes Gallo.
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