Exercício é para se cuidar ou para se punir?

Por Paula Costa Teixeira

É muito comum as pessoas praticarem exercícios físicos para emagrecer. Entendemos como sinônimo de vida saudável, afinal de contas todo mundo sabe que se exercitar faz bem para o corpo e para mente. Isso é verdade… até o dia em que o exercício se torna uma forma de sofrimento e punição.

Pesquisas apontam que o exercício físico, ao invés de relaxar e trazer bem-estar, também pode estimular comportamentos inadequados para a saúde, principalmente, no âmbito mental. Isso porque a depender de como você se exercita, o seu cérebro não registra a sua atividade como um momento de pleno lazer, harmonia, relaxamento, e conexão corpo-mente. Quando digo “como”, estou me referindo aos seus pensamentos e intenções no momento do exercício.

Se ao se exercitar sua intenção é exclusivamente compensar sua alimentação, é metabolizar nutrientes, é emagrecer, é queimar calorias, você torna o exercício um gerador de neuras, uma usina de pensamentos intrusivos, um estimulador de insatisfação corporal, em outras palavras, um exercício punitivo.

Assim, a conexão corpo-mente fica comprometida e o bem-estar pleno, que significa saúde física, emocional e mental, não acontece. Quando o desejo intenso de emagrecer ou o medo exagerado de engordar coexiste com o prazer em se exercitar, a saúde mental padece.

Minha experiência ao trabalhar no tratamento de pacientes com transtornos alimentares me possibilitou ver que algumas pessoas, mesmo com um estilo de vida ativo, que se exercitam na academia com regularidade e que fisicamente aparentam estar saudáveis, na verdade sofrem de uma síndrome psiquiátrica gravíssima, que exige tratamento longo (de anos) e auxílio de vários profissionais especializados.

O conceito de exercício intuitivo surge para nos convidar a refletir sobre como estamos praticando exercícios, ou ainda porque algumas pessoas nunca conseguiram se engajar numa prática regular.

Para mim, o exercício intuitivo é o equilíbrio de duas extremidades: o exercício disfuncional (excessivo ou compulsivo) versus o sedentarismo. Observe-se e questione-se sobre a sua relação com os exercícios.

Buscar o seu exercício intuitivo é permitir que exista na sua vida um espaço para você se realizar, se renovar, se reenergizar, se cuidar e simplesmente ser você.

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Paula Costa Teixeira
Educadora Física, Doutora em Neurociências e Comportamento pela USP, Especialista pela UNIFESP, Colaboradora do AMBULIM e Membro do GENTA.