Por que criou-se tanta expectativa sobre ter uma produtividade elevada durante a quarentena?

Por Amanda Menezes Gallo

E por que por mais que se faça, as pessoas estão sentindo-se tão frustradas, como se nada estivesse sendo feito?

No início da quarentena todos foram bombardeados de informações sobre livros, cursos, shows, programas de tv disponíveis sem custo, ideias de atividades para entreter as crianças, para organizar a casa e os armários, os aplicativos de chamadas em grupo foram popularizados ao oferecer a possibilidade de reencontros virtuais, enfim, tudo para que a população se sentisse “saciada” e não sofresse com o possível ócio do isolamento.

Ócio? Oi?! É verdade que o isolamento vem promovendo coisas e sentimentos dos mais diversos, mas ainda não tive contato com ninguém que estivesse sem ocupação ou deprimindo em decorrência da ociosidade, especificamente. Também não tive acesso a ninguém que tenha conseguido colocar todas as leituras, séries, bagunças, trabalho atrasado e conversas em dia.

Acúmulo de funções (casa, trabalho, filhos, refeições, assistir “lives”, participar do bate-papo com amigos), medo de ser demitido ou até mesmo de ter que demitir, sobrecarga e dificuldade para estabelecer limite nas horas trabalhadas, falta de tempo, medo da instabilidade financeira, cansaço físico e esgotamento emocional têm sido relatos frequentes. Ou seja, o problema não passa pela baixa produtividade, e sim pelo desejo insaciável de produzir mais e mais, sentindo-se confortável e enérgico o tempo inteiro.

Foto: Shutterstock

Numa sociedade pautada pelos excessos, ao que tudo indica as pessoas estão se cobrando demais, e criando expectativas demais sobre um momento mundial extremamente delicado. É necessário e urgente entender que atualmente, o simples fato de estar consciente da realidade já representa uma demanda altíssima do ponto de vista emocional. Altíssima mesmo. Isso, por si só, já pode desencadear a sensação de esgotamento físico, mental e emocional. Acredite!

É preciso ter calma… Vai passar, a vida certamente seguirá para a maior parte da população, e o que não for feito durante a quarentena poderá ser feito a qualquer tempo.

Não se cobre tanto, seja generoso com você, com quem está a sua volta, com o que você faz todos os dias, e, principalmente, reconheça o fato de estar passando por esta fase da melhor forma possível, ou seja, do modo como você dá conta de passar! Não é seu “modus operandi” que está errado, foi o mundo que não deu aviso prévio sobre por quantas transformações ele passaria…

Vai ficar tudo bem!

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Amanda Menezes Gallo
Psicóloga, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e Doutora em Distúrbios do Desenvolvimento.