A capacidade de lidar com frustrações.

Por Amanda Menezes Gallo

Vejo uma geração quebrando barreiras, uma geração criativa, que transforma o trivial em algo diferenciado, que cria novidades com maestria e nos faz tornarmos completamente dependentes de coisas que até “ontem” vivíamos sem. Eu vejo muita potência cognitiva, vejo esforço, inteligência e superação transbordando no mundo atual. Porém, vejo contradições…

Justamente por estarmos vivendo em um mundo que hiperestimula o desenvolvimento de potencialidades nas pessoas, eu vejo uma busca incessante por algo que não se sabe ao certo o que é, mas sobre o qual se tem uma expectativa imensa.

Vejo pessoas focadas e com projetos bem sucedidos, mas que ainda assim, creem que não fizeram mais do que a obrigação. Eu vejo pessoas correndo em disparada para alcançar o sucesso, mas que quando o atingem nem percebem, ou, se percebem, não sentem o prestígio que pensavam que sentiriam, afinal, essa já é uma etapa vencida e a preocupação passou a ser a próxima meta, o futuro.

Eu vejo que a capacidade das pessoas lidarem com frustrações está em “cacos”, uma geração com baixíssima, ou às vezes nenhuma tolerância a isso. 

E não é fácil mesmo, mas a verdade é que frustrar-se poderia ser bem mais aceitável, dado que de fato nem sempre as expectativas sobre algo são supridas; e ok, não há nada de errado nisso! Em paralelo, eu vejo uma busca frenética pela perfeição estética, alimentar, profissional, afetiva, emocional, social, global. Vejo expectativa em demasia, desejos e metas cada vez mais “megalomaníacos”, que se por um lado soam como desafios, por outro aproximam os “desafiados” da sensação de frustração e fracasso quando o objetivo não é alcançado.

Eu vejo um vazio imenso, cada vez mais pessoas “robotizadas”, que pegam “uma reta” em busca dos seus ideais de vaidade, e, paradoxalmente, se descuidam; descuidam das relações, da parte mais humana da questão. Vejo pessoas tentando se “anestesiar”, seja para não perder o foco, ou porque já o perderam e não sabem lidar com esse fato.

Vejo uma “caçada” aos meios que promovam certa “anestesia emocional”, quando SENTIR fica menos intenso e, aparentemente, “tocar a vida” fica mais fácil. Ou seja, uma espécie de eu interior que se “atrofia” cada dia mais, que fica esquecidinho em meio à tsunami de ideias geniais que se busca ter para se conseguir um “lugar ao sol” – VIP, de preferência.

Eu vejo uma busca pelos mais diversos tipos de excessos que pareçam suprir uma demanda totalmente interna, um “vazio” que se tenta “preencher” com alta dosagem de doces, remédios, drogas, compras, relacionamentos casuais, mas que, em contrapartida, não se preenche com esses recursos e, às vezes, com nenhum outro. 

Por fim, eu vejo que é preciso reaprender a viver, mas me refiro a viver aproveitando as possibilidades de desafios que o mundo moderno propõe, sem deixar de lado a beleza de ser humano.

De poder experimentar novidades, se desafiar, pensar sobre os resultados e se permitir sentir as emoções geradas, sejam positivas ou negativas (prefiro não dizer “boas ou ruins”, pois todas são essenciais e têm sua função).

Estar triste, irritado, com raiva, angustiado, ansioso, feliz, orgulhoso, grato… enfim, sentir e identificar o que se sente pode ser muito mais libertador e normal do que insistir em esconder todo esse conteúdo de si (e dos outros). A partir daí seguir, persistir, repensar, se reinventar inúmeras vezes, tantas quantas forem necessárias. 

Como lidar com tudo isso? Psicoterapias, acompanhamento médico, tratamento medicamentoso, meditação, terapias alternativas, esportes, artes, são tantas as formas de acalmar as inquietações sem se perder de si, voltando-se para o aqui e agora, sem ultrapassar os próprios limites para dar conta de não ter limites na própria vida… É preciso querer mudar, aceitar, se aprimorar, resgatar o ser humano “perdido”.

E eu vejo possibilidades, vejo esperança!

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Amanda Menezes Gallo
Psicóloga, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e Doutora em Distúrbios do Desenvolvimento.