É comum confundir o conceito de aceitação com conformismo.

Por Dr. Alexandre Pinto de Azevedo

O processo de aceitação se faz presente, usualmente de maneira intuitiva e inconsciente, em inúmeras fases da vida, diante de perdas, como na vivência do luto, ou em outras situações que de fato não temos escolha. Contudo, não raramente, quando a aceitação, ou melhor, a autoaceitação, deve ser conscientemente legitimamente incorporada, vivencia-se uma resistência em se permitir progredir neste processo.

É comum confundir o conceito de aceitação com conformismo e esta crença, frequentemente, dificulta o engajamento em assimilar esta nova maneira de viver etapas da vida. É também importante deixar claro que aceitação não é sinônimo de resignação ou passividade.

Um dos momentos em que a aceitação deve ser terapeuticamente experimentada é quando há sofrimento diante da insatisfação com o corpo e o peso. Frequentemente pessoas com obesidade são unicamente motivadas a perder peso por vivenciarem situações de gordofobia e por elas mesmas serem gordofóbicas, ambas situações socioculturalmente impostas. São histórias de recorrentes tratamentos simplistas para obesidade, com medicamentos inibidores do apetite, tirando o aprendizado da autonomia do ciclo fome-saciedade, ou com dietas restritivas que não se sustentam em médio-longo prazo, levando a perdas e reganhos de peso (o conhecido efeito sanfona) e, sem dúvida, frustrações recorrentes.

Ao contrário do que se imagina, em situações como estas, diferentemente de estimular o desconforto com o próprio corpo, acreditando-se aumentar o envolvimento no processo de perda de peso, experimentar a aceitação corporal não levará ao conformismo e desistência.

Aceitar-se como de fato é neste momento, na verdade, permitirá que se observe e cuide do atual corpo com maior gentileza e possa viver com ele com maior respeito, até que os objetivos sejam atingidos. Parar de se odiar e fazer as pazes com o corpo, auxiliarão no processo da reeducação alimentar, revisando prévios ideais de corpo perfeito, tornando mais próximo do real o engajamento para a perda de peso, se ainda desejado.

A aceitação não é processo fácil, afinal será necessário ressignificar muito do que se aprendeu a respeito da representação do corpo obeso, carregado de estigmas e preconceito. É uma reformulação de conceitos, como um treino, que exigirá sim uma participação ativa no processo. Porém, ganhar autoconfiança, experimentar um conforto emocional que há tempos não sentia e até empatia com o próprio corpo sem dúvida tornará o processo de perda de peso mais real e concretizável.

0

Dr. Alexandre Pinto de Azevedo
Psiquiatra, Coord. do Grupo de Comer Compulsivo e Obesidade e do Grupo de Atendimento a Homens com Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria, HC FMUSP.