Mindfulness NÃO é dieta.

Por Vera Lúcia Salvo

Mindfulness e, em especial mindful eating, são temas ainda incipientes na literatura científica e prática clínica no Brasil, despertando, todavia, muito interesse e por vezes confusão sobre seu verdadeiro significado. Muitas são as propostas para levar à perda de peso, de preferência de forma rápida e duradoura. Neste contexto, surge Mindfulness (atenção plena) e mindful eating (consciência alimentar); por vezes chamada de dieta.

Mito ou verdade? Vamos entender melhor:

Dieta é sinônimo de: abstinência, jejum. Popularmente, o emprego da palavra “dieta” está associado a uma forma de conter o peso.  Mindfulness, ou mindful eating NÃO sugerem jejum ou proíbem alimentos; pelo contrário, dão a opção de escolha consciente em todas as situações, respeitando o percurso de cada um em todos os contextos, inclusive o alimentar.

A consciência alimentar baseada em mindfulness, procura resgatar a sabedoria interna, a sabedoria do corpo para que o equilíbrio, a mudança de hábito, venha de dentro para fora, de forma natural, sem imposição; o que pode possibilitar maior sustentabilidade ao longo do tempo.

O participante destes programas vai aprendendo a conhecer seu corpo, seus limites, os diferentes tipos de fome, os gatilhos emocionais que propiciam muitas vezes o comer desnecessário, em excesso, automático.

Outra interpretação pode ser dada à palavra dieta se resgatarmos sua origem. A palavra “dieta” tem origem no latim “diaeta”, que vem do grego “díaita”, que significa “modo de vida”. A partir deste contexto, como modo de vida, podemos dizer que poderia se aproximar mais de mindfulness e de mindful eating; como uma forma de ser, de estar, de se alimentar… contudo, cabe ressaltar que a dieta trata de uma mudança nos hábitos alimentares, que ensina um modo de se alimentar, de acordo com as necessidades do corpo. Dietas também podem ser feitas com diferentes objetivos, inclusive para ganho de peso, dependendo do caso.

A grande verdade é: não existem soluções milagrosas para os grandes problemas que enfrentamos em relação às doenças crônicas ou obesidade e, no que diz respeito a mindfulness e mindful eating, o que existe é um percurso, uma mudança de postura frente ao alimento e ao corpo.

As pesquisas (revisões e ensaios clínicos), vem apontando que terapias baseadas em mindfulness podem contribuir com a melhora do estado nutricional e perda de peso, porém não devem ser encaradas como metas, mas como consequências de uma prática sincera, frequente.

As pesquisas científicas no campo da consciência alimentar, nos Estados Unidos e Europa e, especialmente no Brasil têm várias lacunas a serem preenchidas. Podemos sim acreditar em uma abordagem diferente, mais humana, menos prescritiva, mais compassiva ofertada pelas terapias baseadas em mindfulness sem, no entanto, gerar falsas expectativas e despertar uma ansiedade que em nada contribui com o processo de emagrecimento ou mudança do hábito alimentar.

Que mais que uma ferramenta, possa mindfulness e mindful eating ser, na sua vida, possibilidade de descoberta, autoconhecimento, autocompaixão, consciência corporal e alimentar; trazendo curiosidade a cada dia, gentileza e gratidão para com o corpo e abertura para olhar cada alimento sem tantos julgamentos!

Veja aqui um exercício de mindful eating. 

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Vera Lúcia Salvo

Especialista em Nutrição Clínica pelo Centro Universitário São Camilo e em Teorias e Técnicas para cuidados integrativos no departamento de neurologia e neurocirurgia da UNIFESP. Pós-doutoranda em Saúde Coletiva  com ênfase em Mindfulness e Mindful eating– Depto de Medicina Preventiva – UNIFESP/EPM. Instrutora de Mindfulness e Mindful Eating. Member of Center for Mindful Eating (TCME)