Reganho de peso. O que acontece?

Por Vera Lúcia Salvo

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 95% dos obesos que seguem dieta para emagrecer fracassam na manutenção do corpo mais magro. Mais difícil que emagrecer é sustentar-se após o peso perdido.

A primeira coisa que pode vir à sua cabeça ou das pessoas que te cercam pode ser algo do tipo: “Eu sou fraca para continuar a restringir minha ingestão alimentar, sou um fracasso… Errado!! Pode parar se criticar, de carregar uma culpa enorme.

A partir da fisiologia e com as lentes da compaixão podemos compreender melhor isso.

Em suma, o autocontrole é importante para o peso, mas não tanto quanto se espera.

Você sabia que o seu corpo, fisiologicamente defende um peso definido geneticamente? A privação calórica leva a alterações nos hormônios, no metabolismo e nas funções cognitivas/atenção que dificultam a manutenção de comportamentos necessários para manter o peso adquirido.

Em resposta à privação de calorias, níveis de leptina, considerado o hormônio da saciedade, diminuem, e os níveis de grelina, o hormônio da fome, aumentam.

Além disso, ocorre uma adaptação fisiológica da privação calórica que se dá mediante uma redução no gasto de energia (ou seja, seu corpo começa a economizar, poupar por precaução).

Esta redução pode ser justificada por dois fatores:

  1. Em primeiro lugar, após privação de calorias, você perde peso e, portanto, menos energia é necessária para desempenhar as atividades e fazer exercícios; há uma redução do gasto energético.
  2. Em segundo lugar, a partir das mudanças resultantes do emagrecimento, o metabolismo se torna mais eficiente, permitindo que o corpo, para sobreviver, utilize menos energia do que corpos de tamanhos similares que não foram privados de calorias. Desta forma, para continuar a perder peso, você deve consumir menos calorias do que durante as fases iniciais da dieta. O corpo se adapta, atinge um equilíbrio e desconhecendo esta adaptação metabólica e não alterando a dieta, a perda de peso deixará de continuar ocorrendo e pode-se iniciar aí a recuperação ponderal (peso), o que possivelmente te deixará frustrada, desanimada.

Estudos de imagens cerebrais também encontram maior atividade em áreas relevantes para recompensas (o mesmo local em que atuam, além dos alimentos, alcool, drogas, sexo). Por outro lado, quando ocorre privação calórica as pessoas melhoram o funcionamento do olfato, relatam que os alimentos têm um gosto mais palatável e estão dispostos a se esforçar mais para obtê-lo. É como se corpo e o cérebro estivessem estressados, lutando… mas não contra você como deve estar imaginando. Seu corpo está tentando te proteger, manter você como está.

Se você puder olhar com gentileza, curiosidade e de forma compassiva para esta situação, talvez em algum momento possa brotar em seu coração a gratidão, a compaixão, por perceber que seu corpo é seu amigo, quer o melhor para você, trabalha em seu favor dia após dia.

Verifique se é posível deixar de rechaçar seu corpo, se esquivar dele, mas tratá-lo com mais carinho, começando em sua mente e coração a mudança; de dentro para fora. Permita-se abrir mão de forma amorosa do excesso de gordura corporal, dessa proteção que foi sendo criada em torno de você, talvez assim os quilos perdidos não voltem; à medida que você puder soltar amorosamente.

É a lei da física, ação e reação. Você tenta se livrar rapidamente com raiva e com igual velocidade retorna…

Portanto, em vez de fazer dieta, que tal agradecer pelo que tem agora e tomar para si a responsabilidade e não culpa de se cuidar a cada dia com cuidado e com respeito? Cultivando a bondade, a compaixão, a gratidão, você estará recompensando seu cérebro e enfraquecendo o sistema de luta, de alerta que pode facilitar o reganho de peso.

Vamos tentar?

O que estou fazendo contigo?

Porque não venho te respeitar?
Espero emagrecer
Sem ao menos entender
O que muitas vezes como, sem vontade de comer.

Do que estou fugindo?
O que quero preencher?

Como posso neglicenciar
O cuidado, o carinho, atenção
Respeito a quem só bem quer me fazer?
Paro, respiro e percebo
O corpo, onde as sensações venho viver!

0

Vera Lúcia Salvo

Especialista em Nutrição Clínica pelo Centro Universitário São Camilo e em Teorias e Técnicas para cuidados integrativos no departamento de neurologia e neurocirurgia da UNIFESP. Pós-doutoranda em Saúde Coletiva  com ênfase em Mindfulness e Mindful eating– Depto de Medicina Preventiva – UNIFESP/EPM. Instrutora de Mindfulness e Mindful Eating. Member of Center for Mindful Eating (TCME)