O estigma do peso em homens.

Por Rafael Marques

Definitivamente, de modo doentio, a imagem corporal se tornou um valor humano. Somos cercados de mensagens explícitas de qual “corpo perfeito” devemos ter para sermos aceitos.

Isso gera, em uma parcela muito grande da população, um desconforto que muitas vezes sufoca, que lembra o tempo todo que há imperfeições no seu corpo e que elas devem ser IMEDIATAMENTE corrigidas.

Um estudo recentemente publicado, pelo site onlinelibrary.wiley.com aborda o tema do estigma do peso sofrido por homens. Em uma análise mais empírica, é de conhecimento comum que a aparência e peso corporais são questões muito mais presentes no mundo feminino, entretanto, novos estudos têm demonstrado que isso não é uma exclusividade das mulheres.

Apelidos e piadas com homens gordos e magros sempre existiram, entretanto migramos de uma possível inocente brincadeira entre amigos, para um olhar de julgamento das pessoas que nos cercam.

Se você é magro demais é chamado de “frango” e se é gordo de “porco”. Ambos são CULPADOS por não terem seus corpos modelados pelos padrões dos “super-heróis”das redes sociais.

Isso gera uma crença, que é muito alimentada pelas campanhas do “#Foco, força e fé”, “Só depende de você”, “Se não está dando certo é sua culpa”. A crença é de que esta estratégia é a mais eficaz e correta para ajudar as pessoas a cuidarem dos seus corpos, e caso não funcione SAIA DO GRUPO DOS VENCEDORES E PERMANEÇA NO GRUPO DOS FRACASSADOS.

Bem, os estudos demonstram que isso pode aumentar o problema. Entretanto, sem explorar a ciência e somente olhando para o mundo que nos cerca, percebemos que não está funcionando, pois afinal o número de obesos só aumenta e o de homens que buscam estratégias inseguras para ficarem “gigantes”, também.

A palavra “fit” que em sua tradução literal significa – se encaixar – nunca foi tão bem utilizada.

É praticamente impossível alguém se olhar no espelho e dizer, “ok estou com um corpo que não será criticado”. Não resta dúvida de que a estigmatização é prejudicial à saúde, aumenta os níveis de doenças clínicas e mentais em nossos pacientes.

Contudo, para aqueles que realmente querem ajudar e não julgar seus pacientes é necessária a empatia suficiente para ajudá-los a encontrar estratégias que os permitam a lidar e enfrentar o estigma do peso, e somente após a superação desta etapa estarão prontos para os demais desafios do cuidado de sua saúde.

0

Rafael Marques
Nutricionista, coord. da Pós-graduação em Comportamento Alimentar do IPGS, mestre em epidemiologia e pesquisador do Hospital do Coração de São Paulo. Instagram @comportamentoalimentar