Quando se aproximam as festas de fim de ano muitas pessoas, em especial aquelas que vivem o conflito com a balança e com o espelho, têm nestes momentos de grande oferta alimentar, muito sofrimento.
Muitas vezes por agirmos no piloto automático, por crenças, hábitos, nos privamos de várias preparações das quais gostamos e apenas nestes períodos nos permitimos desfrutar… Assim, transformamos preparações doces ou salgadas, em recompensa, passamos o ano inteiro esperando para comer.
O mais interessante é que boa parte dessas preparações estaria disponível em qualquer época do ano e poderia ser saboreada muito antes honrando nossa fome hedônica, de prazer e tantas vezes, fome do coração, do convívio, do abraço.
É queixa comum, após as festas, muitas pessoas dizerem, agora vou ter que ficar de jejum, comi tanto que agora preciso desintoxicar…
Eu vim de família portuguesa e cresci vendo minha mãe passar estes dias no fogão e no forno. Tinha comida para 15 dias… Importante levarmos a curiosidade para estes momentos a fim de verificar se buscamos a abundancia alimentar por conta de uma escassez no passado, a fome de nossos ancestrais, ou algo parecido, trazendo do passado para o presente costumes que podem pesar não apenas na balança, mas também na mente e no coração.
A fim de levar mais consciência alimentar baseada em mindfulness (mindful eating) e compaixão para estas ocasiões, algumas dicas podem ser úteis:
Permita-se estar presente em cada sensação, a cada mordida, garfada, especialmente tratando-se dos alimentos que você mais aprecia. Para que ter pressa, ansiedade de acabar logo? Sinta, aprecie, desfrute.
- Procure não ficar muitas horas sem comer antes destes momentos de grandes ofertas sob pena de não conseguir levar consciência ao prato, mas apenas querer “matar“ a fome acima de qualquer coisa. Como necessidade fisiológica, se ficarmos muito tempo sem comer, não será possível apreciar, saborear a comida, mas apenas preencher espaços vazios… Planejar ficar previamente horas em jejum para aproveitar mais nas festas pode ser uma estratégia ruim, levando a desconforto e culpa ao término.
- Busque, quando se sentir satisfeito, manter o contato social mais distante das travessas, para que a fome dos olhos, a disponibilidade do alimento, não te faça desrespeitar os limites do corpo, levando a mal estar e desconforto abdominal.
- Diante de muitas opções alimentares, aprecie visualmente e com o olfato, cada uma e quando estiver pronta para se servir, procure colocar pequenas quantidades de cada opção harmonicamente no prato, enchendo os olhos. 92% das pessoas tendem a comer tudo que colocam no prato; assim, se realmente estiver saboroso e ainda estiver com fome, você poderá honrar a necessidade de seu corpo e repetir.
- Vá alternando sua atenção entre estar com amigos e familiares no momento da refeição, com os sinais internos, percebendo como se sente, o quanto de fome e o quão cheio você está, bem como quanto ainda considera o que está comendo tão delicioso como no início. Lembre-se que o sabor/gosto, vai declinando; o impacto inicial não se perpetua, não dura para sempre.
- Veja se é possível agradecer, pelo alimento que tem à mesa, pela pessoa que preparou (mesmo que tenha sido você), reconhecendo que logo entrará em seu corpo e será parte de você.
- É muito comum nesta época do ano as pessoas festejarem com muita bebida também. Perceba o que te faz beber, é o paladar que te chama, é vontade de não sentir, pensar, uma esquiva da experiência? A bebida é uma muleta? Uma forma de você relaxar? Esteja consciente do que leva a beber e manter-se bebendo. Faça escolhas que representem cuidado, carinho e respeito ao seu corpo. Veja se é possível abrir-se para o que se apresenta, com olhar curioso e gentil; se acha que te falta coragem, não é a bebida que vai te encorajar, mas apenas colocar uma máscara para representar o que não foi cultivado internamente.
As festas do final de ano são celebração, união, partilha, amizade, família. Com consciência será possível desfrutar mais estes momentos, estar presente, para guardar no coração tudo o que esta época desperta em nós.
Que na mesa de natal, além do alimento, não falte amor, união, fraternidade. Que possamos estar alimentados de esperança e paz. Que nos permitamos abrir mão do supérfluo, do que nos pesou este ano para trazer mais leveza, mais saúde física, mental e emocional para o ano vindouro!
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