EM TEMPOS DE ISOLAMENTO SOCIAL NECESSÁRIO: COMO MANTER A SAÚDE MENTAL?

Por Dr. Alexandre Pinto de Azevedo

Estamos vivendo um período até então desconhecido por nós aqui no Brasil, o fenômeno do isolamento social como orientação médico-sanitária, como parte da estratégia essencial para conter a propagação rápida e disruptiva do novo coronavírus (identificado pela primeira vez em dezembro de 2019 na cidade de Wuhan na China e com primeiro caso confirmado no Brasil ao final de fevereiro de 2020).

Para quem é possivel estar afastado de suas atividades profissionais ou mesmo trabalhando à distância de casa (em home office), o confinamento domiciliar se faz necessário sozinho ou com a família. Há ainda um outro fenômeno em que mesmo dentro de casa, um membro da família deve se manter afastado dos outros, diante de um caso supeito. 

Em recente publicação cientifica na respeitada revista The Lancet (fev/20), Samantha Brooks e colaboradores discutem todos os estudos sobre o tema e encontram que nestas situações é frequente encontrar os efeitos psicológicos negativos, incluindo sintomas de estresse pós-traumático (ansiedade, insônia) e sintomas depressivos (irritabilidade, tristeza, angústia). E que quanto maior a duração da quarentena, surgem sentimentos de frustração e tédio, além do medo de infecção, perda financeira e estigma.

E como então manter a saúde mental e minimizar as consequências emocionais nestes casos? A primeira regra é: mantenha a rotina em casa, ou seja, os mesmos sincronizadores externos de ritmo circadiano.

O que quero dizer com isso?

  • Mantenha os mesmos horários de dormir e acordar (não permaneça na cama ao longo do dia),
  • Os mesmos horários de refeições,
  • Os mesmos horários de banho,
  • Os mesmo horários de atividade física (mesmo que adaptados para dentro de casa),
  • E, se puder, alguma exposição à luminosidade natural (sol) também será bem-vinda; lembrem-se: não são férias.

Manter estes ritmos garantirão que seu corpo funcione fisiologicamente como habitual, além de permitir que seu cérebro e mente, por consequência, se mantenham biologicamente sincronizados, favorecendo inclusive sua imunidade natural. Se você está em home office será mais fácil, afinal você ainda estará parte do seu dia trabalhando. Reserve um espaço de casa para o trabalho e organize-se em horários regulares.

A dificuldade será quando se está confinado e não há atividades rotineiras a se cumprir. Deve-se neste momento ter disciplina.

É hora então de se aplicar em um treino de habilidades de planejamento para organizar atividades em longo prazo – afinal não sabemos ainda por quanto tempo permaneceremos nestas condições – que podem ser realizadas em casa.

Manter o sentimento de utilidade é essencial, como por exemplo organizando documentos e pagamentos, aquele guarda-roupa que merece organização (e separar roupas para doação) ou mesmo a rotina de limpeza da casa no dia a dia. Podemos também utilizar os recuros tecnológicos a nosso favor para mitigar o sentimento de solidão: já que não estamos socializando pessoalmente, por que não promover encontros virtuais por ligação de vídeo?

Há inumeras aplicativos ou plataformas que pelo próprio smartphone é possível realizar estas ligações de vídeo em grupo, tornando-se possivel realizar um refeição acompanhado virtualmente, participar de jogos em grupo ou mesmo comemorações. Sem dúvida criar rotinas de frequentemente fazer ligações em vídeo com as pessoas que habitualmente voce convive minimizará a sensação de isolamento e trará algum conforto de proximidade. 

Mas também é hora de desacelerar: evite a busca persistente de atualizações sobre números de infectados com COVID-19 no Brasil e no mundo, assim como de novos casos de morte, pois além de promover grande risco de crescente de ansiedade, não melhorará os cuidados que se deve ter e que certamente permanecerão as mesmas: higiene das mãos, evitar os contatos pessoais e evitar levar as mãos ao rosto, entre outros.

Estabeleça, portanto, uma rotina também de horários para novas informações, talvez ao início e ao final do dia. Evite se manter conectado às redes de notícias e aos grupos de mensagens que apenas informam sobre o COVID-19, converse sobre outras coisas, leia bons livros, atualize suas séries favoritas, veja filmes, cuide das plantas, brinque com as crianças, 

E se ainda assim estiver sozinho e for difícil emocionalmente, você pode entrar em contato com o CVV – Centro de Valorização da Vida para apoio emocional, para conversar com sigilo, por telefone, email, chato 24h todos os dias. Os contatos são o número 188 para todo Brasil ou o site cvv.org.br.

Cuidem-se e #ficaemcasa.

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Dr. Alexandre Pinto de Azevedo
Psiquiatra, Coord. do Grupo de Comer Compulsivo e Obesidade e do Grupo de Atendimento a Homens com Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria, HC FMUSP.