VIGOREXIA: o corpo nunca é suficientemente musculoso.

Por Paula Costa Teixeira

A vigorexia ou dismorfia muscular é uma doença psiquiátrica, que pode ser classificada como um Transtorno Dismórfico Corporal (TDC) e associado também a um Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC).

Uma definição resumida para vigorexia é a preocupação patológica de que o corpo não é suficientemente musculoso.

Por ter sido identificada pela primeira vez em um grupo de fisiculturistas, os estudos científicos apontam uma prevalência maior dessa doença em homens, porém, mulheres também podem sofrer desse quadro.

A pessoa que sofre de vigorexia apresenta os seguintes comportamentos:

  • Julga a sua aparência como fraca, franzina e pequena, quando na verdade ela não sente que seus músculos são exageradamente grandes;
  • Possui uma rotina extenuante de exercícios, visando exclusivamente a hipertrofia (ganho de massa muscular) e evita exercícios aeróbicos para que não ocorra perda da massa muscular adquirida durante as vigorosas sessões de treino de força;
  • Checa possíveis ganhos musculares repetidas vezes;
  • Possui padrões estranhos de alimentação e estabelece dietas com excesso de proteínas;
  • Faz uso indiscriminado de suplementos e esteróides anabolizantes;
  • Dispensa atividades importantes que comprometam a sua agenda de exercícios e a sua dieta, por exemplo, aniversários de pessoas queridas e oportunidades de trabalho;
  • Preocupa-se excessivamente com o tamanho do seu corpo a ponto de prejudicar a sua atenção nos âmbitos ocupacionais (trabalho), afetivos e sociais (relacionamentos afetivos, conjugais, familiares);
  • Continua a se exercitar mesmo com lesão, ou permanece seguindo dietas inadequadas mesmo sofrendo com efeitos colaterais;
  • Pensamentos sobre exercício e comida ocupam muitas horas do dia e prejudica a atenção.

Para muitas pessoas esses comportamentos não são considerados um problema, e essa é a maior barreira para o diagnóstico e tratamento adequado. Isso porque treinar excessivamente e seguir dietas, em geral, é rotulado como “saudável” e aceito pela sociedade. Porém, as consequências desses comportamentos para a saúde podem ser irreversíveis.

A pessoa que sofre de vigorexia pode desenvolver problemas como insônia, desanimo, fadiga, dificuldade de atenção, alterações de humor (irritabilidade), desinteresse sexual, lesões ósseas e articulares (devido a desproporção muscular), encurtamento dos tendões, comprometimento da agilidade e do tempo de reação. Além disso, o uso de anabolizantes aumenta os riscos de doenças cardiovasculares, lesões hepáticas, disfunções sexuais e até, pode desenvolver alguns tipos de câncer (próstata, por exemplo).

O tratamento é longo e exige a atuação de uma equipe multidisciplinar qualificada. O primeiro passo é buscar a ajuda do médico psiquiatra para fazer o diagnóstico correto e direcionar o tratamento. A depender da gravidade clínica, se faz necessário um acompanhamento com outras especialidades como cardiologista, urologista, nefrologista, endocrinologista, entre outros.

Vale ressaltar que a pessoa deve buscar ajuda mesmo que não apresente todos os sintomas, pois a prevenção para que o quadro não evolua é muito mais simples.

Também é de fundamental importância buscar ajuda psicológica e nutricional com terapeutas experientes (inclusive treinados no tratamento de transtornos alimentares, pois os sofrimentos com o corpo e com a comida são semelhantes). E por fim, após reestabelecer a verdadeira saúde, praticar um exercício intuitivo para desfrutar de todos os benefícios e viver com harmonia, prazer e satisfação.

Veja aqui a entrevista com a Dra. Paula Costa Teixeira.

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Para saber mais sobre a doença aqui estão algumas referências:

TIMERMAN, F. ; TEIXEIRA, P. C. ; POLACOW, V. O. Nutrição e exercício físico nos transtornos alimentares. In: Aline Mercadenti, Simone Dal Bosco, Angela Tavares. (Org.). NUTRIÇÃO E ATIVIDADE FÍSICA – DO ADULTO SAUDÁVEL ÀS DOENÇAS CRÔNICAS. 1ed.São Paulo: Atheneu, 2015, v. , p. 505-520.

CARVALHO, P. H. B. ; FERREIRA, M. E. C. ; KOTAIT, M. S. ; TEIXEIRA, P. C. ; HEARST, N. ; CORDAS, T. A. ; CONTI, M.A. . Equivalências conceitual, semântica e instrumental: análises preliminares da versão em português (Brasil) da Male Body Dissatisfaction Scale (MBDS). Cadernos de Saúde Pública (ENSP. Impresso) , v. 29, p. 403-409, 2013.

TEIXEIRA, P. C.; POLACOW, V. O. ; QUEIROZ, G. K. O. ; ALVARENGA, M. . Relação exercício físico e transtornos alimentares. In: Marle Alavrenga, Fernanda Baeza Scagliusi e Sonia Tucunduva Phillipi. (Org.). Nutrição e transtornos alimentares: avaliação e tratamento. 2ed.São Paulo: Manole, 2011, v. , p. 133-144.

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Paula Costa Teixeira
Educadora Física, Doutora em Neurociências e Comportamento pela USP, Especialista pela UNIFESP, Colaboradora do AMBULIM e Membro do GENTA.