Tente NÃO falar sobre o corpo dos outros.

Por Marina Nogueira

 

“Nossa, parabéns! Emagreceu!”

“Nossa, ela tá linda, emagreceu… uma beleza!”

Sei que estamos habituados a ouvir ou falar isso. Existe até uma piadinha (de muito mau gosto, diga-se de passagem) na internet que diz: quem acha “eu te amo” a melhor coisa de ouvir, nunca escutou um “como você emagreceu!”

Quer dizer que se eu emagrecer eu NÃO posso ficar feliz?

Claro que pode, desde que isso seja o resultado de um processo orgânico, feliz, de auto-conhecimento e até de ressignificação.

O peso é só uma parte do processo, que é quando o corpo sai do centro da sua vida e se muda pros subúrbios das prioridades. Entretanto, sendo francos, sabemos que não é tão simples assim, mas vale muito fazer um exercício para mudar isso.

A equivalência “magreza = elogio” não só fortalece a falsa idéia de que a beleza mora na magreza, como traz a tona as seguintes questões para quem escuta o “elogio”: “Quer dizer que antes todos observavam meu corpo com olhares contrariados?” ou “Antes ninguém gostava de mim e do meu corpo”. 

E junto com a sensação de estar sendo observada o tempo inteiro – na magreza e no sobrepeso – a necessidade de perder mais peso – às vezes mais do que o saudável – toma conta do momento. Afinal, “quando eu estava acima do peso ninguém notava meu corpo. Agora que emagreci, todos reparam e elogiam”.

Emagrecer seria dar continuidade a esse carnaval de elogios ou seria não voltar para aquele local de julgamento e desprezo. E é logo aí que as coisas podem se tornar perigosas.

Talvez o peso perdido esteja de bom tamanho, suficiente para uma boa saúde física e mental, acompanhado de mudanças alimentares super interessantes, mas o reforço positivo do emagrecimento traz o medo de ficar onde se estava antes.

E aí o exagero da restrição vem com tudo, nunca estando o corpo bom o suficiente. Sempre na expectativa de uma afirmação social, um elogio, um apontamento positivo.

Além disso, você pode estar elogiando alguém que sofre com uma doença, um transtorno alimentar, um período de depressão ou um momento difícil na vida daquela pessoa.

Muitas vezes o emagrecimento vem carregado de dores e angústias mais graves que imaginamos, e não de glamour e alegria.

Vamos tentar valorizar mais as conquistas alimentares e as sensações gostosas que comer bem nos proporciona, para somente depois comentar e celebrar (ou não) uma desejada perda de peso. Quando a gente se encontrar com pessoas que obviamente perderam peso e não nos pediram nenhuma opinião, vamos tentar nos calar.

Aquele corpo não é de domínio seu, e nem as transformações pelas quais ele passa.

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Marina Nogueira
Nutricionista, cozinheira profissional e autora do Blog naocontocalorias.com.br