Qual a sua conexão com a comida?

Por Vanessa Tomasini

Você já pensou qual é a sua conexão com o alimento?

A nossa primeira conexão com o mundo vem por meio do seio materno, que nos alimenta, e fornece o colo que nos dá segurança desde os primeiros minutos de vida. O início da alimentação sólida marca, para o bebê, um novo mundo: é a entrada no universo dos sabores, sentidos, aromas e conexões.

Quantas vezes sentimos um cheiro e nos lembramos de uma cena da infância?

Um dos aromas mais marcantes da minha infância é o cheiro do bolo de fubá do meu avô paterno… Aos domingos à tarde íamos visitá-lo e quando abríamos a porta de sua casa, imediatamente o cheiro de bolo de fubá com erva doce nos encantava e nos chamava à mesa para tomarmos o café da tarde juntos. Meu avô passava um café no coador de pano e o momento estava completo! Estávamos conectados.

Até hoje quando sinto essa associação de aromas, me lembro dessa cena, e mais do que isso, me lembro da alegria daquelas tardes em família.

Essa conexão com o alimento nos marca, mais do que isso, nos mostra nuances da nossa relação com a comida. Você já percebeu que só convidamos para dividir a mesa de nossa casa e comer do nosso alimento, pessoas que realmente são importantes para nós?

Um dos fenômenos mais interessantes (apesar de tudo…) que observamos neste momento de isolamento social, são as pessoas buscando receitas de família para cozinhar. Ou ainda, se permitindo arriscar a preparar receitas que jamais pensaram em fazer em casa antes do isolamento social. O que buscamos ao fazermos isso? Conexão!

No livro “O gosto como experiência”, o filosofo Nicola Perullo define a experiência alimentar da seguinte maneira:

“Viver a experiência do paladar significa também tentar compreender uma relação corpo a corpo, entre sujeito e objeto, na qual o objeto é consumido com a finalidade de “transformar” o sujeito”.

Ao preparar uma refeição ou ao tentarmos reproduzir uma receita de família, temos a possibilidade de transformar o momento presente, e trazer à tona memórias e afetos que já nos transformaram no passado.

Nicola Perullo, segue dizendo que: “Transformar o sujeito culturalmente, incidir sobre seu paladar, transformar até seus sentimentos! Quando a comida se torna mais importante que o momento, temos um problema!”.

O que isso significa? Que a comida tem sim, sempre, um componente emocional. E isso não é um problema. A comida não deve ser ascética e neutra.

E quando temos um comer emocional problematizado?

Quando percebemos que a comida deixa de fazer parte de um momento de alegria e passa a nos trazer sofrimento, quando o ato de comer deixou de ser prazeroso. Se você percebe que a alimentação neste momento está desta forma, busque ajuda especializada. Para que a alimentação permaneça no lugar ao qual ela pertence e que você mantenha a sua conexão com a comida. Do contrário, aproveite as conexões que o alimento lhe dá.

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Vanessa Tomasini
Psicóloga Clínica, aprimoranda em Transtornos Alimentares pelo IPqHCFMUSP, idealizadora do Projeto #VcTemFomeDeQuê? e Como Respeitar Meu Corpo Em Tempos Tão Difíceis?