Por que se exercitar só para emagrecer?

Por Paula Costa Teixeira

Não há problema algum em você querer emagrecer, desde que você elimine o excesso de peso de forma saudável (física e mentalmente saudável), e que você faça isso com uma orientação qualificada. Mudanças corporais bruscas causam efeito rebote no corpo, ou seja, o corpo batalha para voltar ao padrão de antes. Esse processo é conhecido como “efeito sanfona”. E tudo o que você consegue a curto prazo, não se sustenta por muito tempo.

O corpo tem dificuldade de manejar alterações repentinas de hábitos. Portanto, fazer dietas restritivas ou seguir orientações que prometem mudanças em pouco tempo, estimulam um estado de alerta no corpo que gera muito estresse fisiológico e sofrimento mental, com pensamentos inadequados, além de uma preocupação excessiva sobre comida e corpo.

O exercício, de fato, auxilia na manutenção do peso e da composição corporal.

Há muitas pessoas que detestam exercício justamente pelo fato de ter começado um estilo de vida ativo, aliado a regimes e dietas da moda. E, se houve frustração com o resultado dessa somatória, o exercício provavelmente também não ficou registrado de forma positiva na memória dessas pessoas.

Isso porque, em casos assim, o exercício é apenas uma obrigação a ser cumprida. E como a vida é cheia de obrigações e responsabilidades, uma seleção natural das prioridades vai acontecendo ao longo de tempo. Isso faz com que a obrigação em se exercitar seja substituída por outras. 

Agora, se o exercício conquista um lugar de importância diferente… aí existe mais chance de tornar a prática um hábito. A regularidade faz o resultado, seja qual for o seu objetivo.

Quando seu corpo se exercita na medida adequada, bate uma sensação gostosa, a circulação de toda sua energia vital.

Mas é importante estar perceptivo aos sinais do seu corpo, porque, às vezes, há uma confusão entre saber qual é essa medida. E para encontrá-la é preciso estar conectado com o seu corpo, em diálogo com as alterações físicas, aos pensamentos que estão acompanhando seu movimento, as emoções, em outras palavras, estar em diálogo com o momento presente. 

Para ser mais didática, vou exemplificar com a corrida na praia. Imagine você correndo na praia com os seguintes pensamentos:

  • Não devia ter comido aquela sobremesa, agora estou aqui “tendo que correr“;
  • Aquela ceia de natal acabou com minha dieta, vou “ter que” correr para compensar o prejuízo;
  • As férias me engordaram, preciso correr, “sai de mim gordura“.

Esses pensamentos parecem positivos para a saúde mental?

Pessoas que possuem algum tipo de problema ao comer ou ainda ao se exercitar possuem esse tipo de pensamento o tempo inteiro. Então quais pensamentos poderiam acompanhar a corrida na praia, que é o nosso exemplo aqui? Minhas sugestões:
  • pense sobre o funcionamento do seu corpo;
  • sinta a beleza que é ter um corpo que se ajusta naturalmente ao seu exercício, que capta oxigênio, que libera gás carbônico para a natureza;
  • ouça as ondas do mar, a brisa na sua pele, o impulso dos seus pés e sinta as batidas do seu coração;
  • sinta a sua circulação ativa, seu corpo fluindo, se energizando, e se esvaziando das tensões.
Apenas esteja perceptivo plenamente ao que está acontecendo naquele momento dentro de você e ao seu redor. Aproveite muito, todo o seu corpo. Desfrute dessa maravilha e deixe o que passou no passado e o resultado no futuro. Sinta o tempo presente.

Faça a experiência. Não precisa ser na praia, pode ser em plena avenida, pode ser até na esteira, que vai funcionar do mesmo jeito. Sabe porquê? Porque a mudança é interna, é a sua atitude que muda o seu entorno. 

Isso é praticar um exercício intuitivo. 

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Paula Costa Teixeira
Educadora Física, Doutora em Neurociências e Comportamento pela USP, Especialista pela UNIFESP, Colaboradora do AMBULIM e Membro do GENTA.