As mídias sociais podem te deixar doente.

Por Marle Alvarenga

Há muito tempo se sabe que a influência da mídia tem papel no desenvolvimento de transtornos alimentares.

Juntamente com a influência da família e dos amigos, a mídia forma o modelo de etiologia dos três fatores para transtornos alimentares. E afirma-se que a mídia é a mais penetrante – especialmente para adolescentes e adultos jovens.

Esta temática se torna especialmente preocupante hoje, em tempos de mídias sociais. Recente metaanálise sobre o tema encontrou associação entre problemas com a imagem corporal, comer transtornado e uso de mídias sociais.

Infelizmente, não parece haver qualquer crítica sobre a problemática, nem nas grandes páginas de notícias da internet, que resolvem fazer uma “série de entrevistas com as influenciadoras digitais que são musas fitness no Instagram”. Para que?? E onde está o lado B deste tipo de “fenômeno”?

É preciso que busquem a ciência para saber que há estudos sobre a influência negativa das redes. Inclusive, um publicado este ano avaliando uso de diferentes mídias sociais entre jovens, chegou a conclusão de que o Instagram é a pior delas!!

Mas ainda há quem defenda estes perfis como propagadores de “estilo de vida saudável” – a situação é alarmante! Assim, PAIS, prestem atenção naquilo que seus filhos seguem – especialmente as meninas adolescentes – e tenham uma conversa séria e franca sobre o mundo artificial vendido em muitas destas mídias, especialmente no que diz respeito a corpo “ideal” e o que é, de verdade, uma prática saudável de atividade física. O que é, de verdade, comer bem.

Se você segue estes perfis, faça uma autoanálise: eles ajudam a melhorar a sua autoestima? Eles te ajudam a ter uma relação de respeito com seu corpo? Eles verdadeiramente te ajudam a ter hábitos alimentares saudáveis (e possíveis no mundo real)?

Profissionais de saúde, precisamos discutir com nossos pacientes o impacto negativo deste tipo de mídia e ajudá-los a filtrar os conteúdos. Também precisamos expandir nossos esforços de pesquisa nesta área e de ações de saúde pública e políticas que combatam as informações inadequadas.

Para quem gosta de estar conectado, filtre o que você lê e segue. Aqui bons perfis para seguir:
http://www.genta.com.br
http://www.nutricaocomportamental.com.br
http://ocorpoemeu.blogspot.com.br/
http://exerciciointuitivo.blogspot.com.br/
http://criancanacozinha.com/blog/
http://www.cienciainforma.com.br/
https://naosouexposicao.wordpress.com/
http://www.brigadeirodealface.com/
http://www.naocontocalorias.com.br/

E se você ainda tem dúvidas sobre a influência da mídia e das redes sociais no desenvolvimento de transtornos alimentares, comer transtornado e insatisfação corporal, leia aqui vários estudos científicos e artigos sobre isto:

  1. Alvarenga, Marle dos Santos, et al. “Influência da mídia em universitárias brasileiras de diferentes regiões.” Jornal Brasileiro de Psiquiatria 59.2 (2010): 111-118.
  2. Van den Berg, Patricia, et al. “The tripartite influence model of body image and eating disturbance: A covariance structure modeling investigation testing the mediational role of appearance comparison.” Journal of psychosomatic research 53.5 (2002): 1007-1020.
  3. Holland, Grace, and Marika Tiggemann. “A systematic review of the impact of the use of social networking sites on body image and disordered eating outcomes.” Body image 17 (2016): 100-110.
  4. https://qz.com/880853/instagram-made-me-feel-bad-about-myself-until-i-hacked-its-algorithms-to-improve-my-body-image/
  5. http://www.thedailybeast.com/articles/2015/10/08/how-social-media-including-instagram-and-facebook-cause-anorexia.html
  6. Turner, Pixie G., and Carmen E. Lefevre. “Instagram use is linked to increased symptoms of orthorexia nervosa.” Eating and Weight Disorders-Studies on Anorexia, Bulimia and Obesity 22.2 (2017): 277-284.
  7. Fardouly, Jasmine, et al. “Social comparisons on social media: The impact of Facebook on young women’s body image concerns and mood.” Body Image 13 (2015): 38-45.
  8. Kim, Ji Won, and T. Makana Chock. “Body image 2.0: Associations between social grooming on Facebook and body image concerns.” Computers in Human Behavior 48 (2015): 331-339.
  9. Walker, Morgan, et al. “Facebook use and disordered eating in college-aged women.” Journal of Adolescent Health 57.2 (2015): 157-163.
  10. Ghaznavi, Jannath, and Laramie D. Taylor. “Bones, body parts, and sex appeal: An analysis of# thinspiration images on popular social media.” Body Image 14 (2015): 54-61.
  11. Holland, Grace, and Marika Tiggemann. “Strong beats skinny every time”: Disordered eating and compulsive exercise in women who post fitspiration on Instagram.” International Journal of Eating Disorders 50.1 (2017): 76-79.
  12. Tiggemann, Marika, and Mia Zaccardo. “‘Strong is the new skinny’: A content analysis of# fitspiration images on Instagram.” Journal of Health Psychology (2016): 1359105316639436.
  13. Pepin, Genevieve, and Natalie Endresz. “Facebook, Instagram, Pinterest and co.: body image and social media.” Journal of Eating Disorders 3.1 (2015): O22.
  14. Tiggemann, Marika, and Amy Slater. “Facebook and body image concern in adolescent girls: A prospective study.” International Journal of Eating Disorders 50.1 (2017): 80-83.
  15. http://f-utilidades.com/2017/01/12/mas-elas-estao-apenas-compartilhando-um-estilo-de-vida-sera-mesmo/
  16. http://www.mirror.co.uk/lifestyle/health/social-media-making-your-child-9396731
  17. https://www.eatingrecoverycenter.com/blog/2016/05/04/7-ways-to-use-social-media-without-feeding-an-eating-disorder-ellie-herman

0

Marle Alvarenga
Nutricionista e professora, pós-doutora em Nutrição pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Coord. do GENTA - Grupo Especializado em Nutrição, Transtornos Alimentares e Obesidade e Idealizadora do Centro Nutrição Comportamental.